segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Por uma chance a picanha com vinho

Depois do tucupi, do camarão no bafo e dos maravilhosos peixes de água de rio, sem dúvida, a picanha na brasa possui espaço privilegiado na mesa do macapaense. Não poderia ser diferente, pois o espirito afetuoso e festeiro do povo tucuju tem tudo a ver com a congregação que a ritualística da churrasqueira impõe. Aromas da brasa assando a carne, a família e os amigos em volta do churrasqueiro, e a sempre presente cervejinha.
Tudo bem, eu sei, time que está ganhando não se mexe, mas, nesta primeira edição da coluna, eu gostaria de propor um convite, considerando que a alimentação, para além da função de manutenção da sobrevivência, pode também ser uma bela experiência. Então, se você nunca experimentou a picanha assada com vinho, convido-o a aceitar a minha proposta e, se já experimentou, que tente realizar nova experiência seguindo as sugestões aqui apresentadas.
Lembre-se, o intuito da harmonização é potencializar sabores, valorizar a bebida e a comida. Assim, é preciso saber que o corte que tanto apreciamos não vai bem com todos os tipos de vinho.
Para começar a descobrir o casamento ideal, sugiro sempre começar pelo básico: carne vermelha vai bem com tinto. Essa regra não é imutável, mas funciona em 95% dos casos.
Em seguida, vem o segundo e mais complexo questionamento, no universo de uvas e estilos de vinhos tintos, qual seria a melhor opção? Vou direto ao ponto: neste vasto mundo, não há melhor fonte que a tradição.

Na França, o famoso frango de Bresse vai muito bem com o vinho da uva Pinot Noir produzido na Borgonha, o foie gras da Alsácia parece que nasceu para ser degustado com os seus vinhos doces ali produzidos, a italiana Sangiovese parece ter sido um presente de Baco para acompanhar os pratos de massa da Toscana, dentre outros exemplos.
Seguindo esta linha de raciocínio e, ao contrário do que muitos pensam, o corte da picanha não é uma exclusividade brasileira, é bastante apreciada nos países do cone sul, em especial na Argentina, onde recebe o nome de “Tapa de cuadril”. Naquele país, ela é assada de maneira semelhante a forma que normalmente fazemos aqui, com o cuidado de não a expor as labaredas do fogo, mas tão somente ao calor da brasa. Esta técnica também dá nome ao prato, é o que chamam de parrilla.


Pois bem, o que tomam os Hermanos para acompanhar a parrilla de tapa de cuadril? Curiosamente não é a cerveja, mas os afamados vinhos feitos com a uva malbec e produzidos na região de Mendoza. Esta cepa, originariamente da região do Cahors na França, gera um tinto com mais corpo, boa carga de taninos (responsável pela sensação de adstringência na boca), aromas de frutas e acidez média, e fica ótimo com aqueles assados.


O vinho encorpado responde com perfeição ao intenso sabor da carne, os taninos e a acidez eliminam o peso do sabor da gordura na boca, preparando-a para uma próxima garfada. Ambos se fazem sentir, o vinho e os sabores do corte.
Seguindo o mesmo princípio, também conseguimos encontrar uma segunda opção interessante de harmonização. No Uruguai, a parrilla acompanhada pelo vinho também é uma tradição. Os vinhos uruguaios costumeiramente sugeridos são produzidos com outra uva,  a Tannat. Apesar de pouco populares, vão muito bem com a nossa picanha de cada dia. Neste caso, ao invés da “pegada” de fruta mais fresca da Malbec argentina, os aromas remetem a elementos tostados, como café, chocolate amargo e compota de frutas, o que se replica nos sabores.


Como se vê, para acompanhar a picanha na brasa, com a permissão do trocadilho, existe vida após a cerveja, e ela pode ser até mais saudável, considerando os inúmeros benefícios que algumas taças de vinho podem trazer a saúde.
Então, deixo como sugestão o malbec argentino e o tannat uruguaio, que farão boa companhia ao seu “churras” de picanha. Na dúvida, compre alguns rótulos dos dois e tire as suas próprias conclusões. Bom apetite!

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